O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou nesta
quarta-feira (31) que o sistema de segurança do Brasil está "falido".
Segundo avaliação dele, algumas das razões para isso são
"nacionalização" e a "transnacionalização" do crime.
Jungmann usou o exemplo do traficante Antônio Bonfim Lopes,
o Nem, um dos protagonistas dos confrontos que aconteceram pelo controle da
Rocinha em 2017, hoje preso na penitenciária de segurança máxima de Porto
Velho, em Rondônia.
"Nem está a 5 mil quilômetros do Rio de Janeiro. Mesmo
assim, declara uma guerra na Rocinha, o que leva as Forças Armadas a serem
convocadas. O sistema também faliu porque o governo federal não tem mandato
sobre a situação dos estados, apenas em situações extraordinárias, que não
deveriam acontecer", explicou ele.
Jungmann disse, ainda, que há "um certo
masoquismo" na divulgação da violência no Rio. O ministro lembrou também
que, em 18 meses no cargo, decretou 11 vezes a Garantia da Lei da Ordem, que
autoriza a intervenção federal militar para auxílio às forças de segurança
estaduais. Só em Natal, a capital do Rio Grande do Norte, segundo ele, foram
três pedidos em um ano.
"O problema da segurança não vai se resolver na Defesa.
Não. Está havendo uma banalização disso", afirmou ele.
Durante sua palestra no evento "O futuro começa
hoje", sobre novas ações para a Polícia Militar do estado, no Rio de
Janeiro, o ministro disse que há certo "masoquismo" em relação à
divulgação da violência no Rio. Confrontado, ele disse que é preciso haver um
"equilíbrio narrativo".
"Vários indicadores estão estabilizados, alguns estão
revertendo, você teve uma redução de 70% de roubo de cargas quando trouxe a
polícia rodoviária federal. Se você apenas coloca a denúncia, que de fato tem
que fazer parte, você passa a noção de que nada está mudando, e que leva a
descrença. Essa descrença leva à paralisia", avaliou Jungmann.
Mais tarde, em entrevista por telefone à Globonews, o
ministro também comentou os tiroteios na Cidade de Deus. Os confrontos na
região deixaram três mortos e interromperam três vezes o trânsito na via, uma
das mais importantes da cidade.
"É um fato grave e extremamente lamentável. O Rio de
Janeiro levou décadas para chegar ao estado que está. Nós estamos ajudando o
Rio há sete meses. As Forças Armadas não podem combater o crime na Rocinha,
porque se fossem enfrentar com poder letal a criminalidade, seria uma tragédia.
As Forças Armadas são feitas para destruir", avaliou o ministro. Segundo
ele, a justiça do Rio deveria emitir mandados coletivos para ajudar nas prisões
e apreensões."
Jungmann ainda pediu um minuto de silêncio pelos policiais
mortos no Rio de Janeiro. Em 2017, foram 134 policiais mortos no Estado, e 13
este ano. Entre 1994 e 2016, segundo dados da própria polícia militar, foram 3
mil policiais mortos.
"Esta é a mais singela das homenagens, porque quando eu
leio nos jornais a perda de um policial, a gente fica pensando nas famílias. A
vontade que dá e pegar um avião e estar ao lado de vocês, porque eu sei o que
representa de dor, de sofrimento, e isso tem alcançado números absolutamente
inaceitáveis", afirmou o ministro.
Bloqueios marítimo e aéreo
O ministro explicou algumas medidas que pretende tomar nos
próximos meses para ajudar no combate ao crime no Rio de Janeiro. A primeira,
segundo ele, foi a atuação permanente da PRF nas vias expressas do Rio.
“Um outro aspecto é o bloqueio marítimo, que nós vamos fazer
nas diversas baías. Um terceiro é aquilo que eu me referi à parte aérea, assim
como uma corregedoria autônoma, integrada”, disse Jungmann.
Fonte: G1