Passei o final de semana todo ouvindo
conversa sobre medo de trovão. Eu nem era pra ter me ocupado com isso,
com essa perda de tempo, mas aquele ocorrido na noite da quinta-feira
passada deixou a Parnaíba com cara de gente que perde o ônibus das seis
no meio da estrada da Pedra do Sal, quando muita gente já estava batendo
as pestanas feito dono de ponto de venda do mercado da Caramuru com a
porta de enrolar.
Eu duvido, quero
que minha cara vire pras costas, se não teve um filho de Deus aqui na
Parnaíba e vizinhança, que não ficou com medo daquele trovão. Não foi um
trovão. Foi o trovão. Foi tão forte, mas tão forte que lá na avenida
São Sebastião um colega meu se enrolou, ficou pendurado na varanda da
rede, uma rede que havia comprado em Pedro II pra tirar um cochilo. Me
disse que agora vai colocar no lugar das correntes, cordas. Tem medo de
levar um choque elétrico.
E falando
em choque elétrico, um velho lá pros lados de Bom Princípio, desses que
guardam dinheiro pra gastar não se sabe com o quê, estava contando as
moedas de cinquenta centavos e de um real, no escuro, justo na hora do
trovão. Com o papoco a burra rasgou e as moedas se espalharam no quarto
fazendo uma zoada tremenda. Aqui na vizinha os meninos pequenos se
acordaram tudo mijados. Teve gente se acordando catando sem sucesso um
toco de vela.
Estava
quar dormindo e pouco tomei conhecimento do ocorrido. Tano eu acordado
sei lá pra que lado eu havera de ter corrido! Seu Ribamar, do Pindorama,
me disse que o trovão pegou ele justo tirando a dentadura pra dormir.
Na hora ela caiu embaixo da cama, rolou e ele e os cachorros só
encontraram no outro dia lá embaixo de uma touceira de pé de banana. Nem
queira saber o que foi aquilo. Teve panela de pressão que disparou sem
nada dentro lá no bairro de Fátima.
Lá
pros lados do Catanduvas, onde fica o aeroporto de final de semana, uma
dona de casa havia deitado uma galinha com quinze ovos e perto de tirar
os pintos. Depois do trovão ela já está contando com apenas uns três
porque os doze ficaram gouros. Na avenida São Sebastião, pra onde vai
quem gosta de curtir a noite, na hora do trovão teve gente que se
engasgou com pizza. Minha cunhada achou até que já estava morrendo.
Dona
Genésia, devota de São Benedito, estava naquele cochilo bom debulhando
as contas do terço, batendo os beiços e na hora, o trovão foi tão forte
que quando ela olhou procurando pelo santo ele estava aqui embaixo
segurando no chambre dela, branco de medo e tremendo os beiços. O menino
Jesus, que São Benedito leva no colo, foi encontrado debaixo do
colchão. Brincadeira não.
Agora
imagine se este trovão tivesse sido assim pela manhã com aquele monte
de gente se esfregando dentro do Bradesco, da Caixa Econômica e do Banco
do Brasil, no Detran?! Havera de ter caído o sistema e até hoje não ter
voltado! Igual essas fake news, do Bolsonaro. Foi coisa de daqui a uns
cinquenta anos ainda se contar as façanhas. Se ocorrer outro trovão
daqueles, a Parnaíba se esbandaia!
- *Pádua Marques é jornalista e escritor, colabora com o Blogdobsilva.
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