A gente se apega aos
bichos da mesma forma que certos homens se apegam ao poder. Digo isso pra
deixar aqui um de exemplo. Em nossa casa temos uma cadela, de nome Nenete.
Chegou trazida por uma de minhas irmãs depois que o vizinho queria jogar a
bichinha fora dizendo que ela, crescendo haveria de comer muito e acabar
incomodando as suas crianças.
Simpatizei com ela logo
de cara. Tanto que se alguém caçar por aí na internet vai achar uma foto em que
ela ainda filhote está na minha mão. Minhas irmãs, com essa mania besta de
gente da Parnaíba de tudo quererem botar nome americano em cão e gato passaram
a chamar a cadela de Kate. Uma homenagem à princesa da Inglaterra casada com um
neto de dona Elizabeth II.
No Brasil é assim. Quando
não é americano é inglês. Todo mundo fica de boca aberta toda vez que aparece
na televisão a rainha dos ingleses com aqueles vestidos de cores berrantes e os
chapéus que mais lembram os do menino do reclame da cera Parquetina. A Globo
dedica mais de cinco minutos de seu principal telejornal toda vez que tem
alguma coisa vinda da casa de Windsor. Até parece que ela anda ligando pra
nossa pobreza e se preocupando com as safadezas que tem ocorrido a partir de
Brasília.
A rainha da Inglaterra
não sabe nem pra que lado fica o Brasil, mas a gente tem essa coisa de querer
ser súdito dela. Veio ao Brasil no governo do Costa e Silva. Talvez a gente
ache bonito porque ela mora naquele palácio ajardinado enorme, passe em revista
uma guarda às quintas-feiras e depois tem aquela festa toda quando ela sai à
rua se pareça muito com o nosso carnaval em fevereiro. Bem diferente do Brasil
que a gente só ver o presidente bem de pertinho no Dia da Independência.
Mas volto pra Nenete, a
cadela fiel comigo igual foi a maioria dos apóstolos com Jesus Cristo. Outro
dia jogaram um pão seco no quintal, onde ela passa a maior parte do tempo. Foi o suficiente pra que ficasse de guarda uns quatro
dias seguidos. Ninguém chegava perto. Se a gente tentasse se aproximar, ela que
não é agressiva, rosnava, mostrava os dentes como se estivesse avisando que “o
pão é meu e ninguém bula nele senão eu mordo. Vocês não me conhecem!”.
Temer está neste
momento feito a Nenete. Guardando o poder que tem e que conseguiu com muita
manobra. Faz uma semana que está sob o bombardeio da opinião pública e da
televisão depois de ter sido divulgada uma conversa nada civilizada e
republicana com um tal de Joesley Batista, empresário do ramo de carnes, sobre
valores a serem pagos de propina e outras manobras. Desde então o jurista saído
dos bancos da Universidade de São Paulo, depois advogado brilhante, tem visto é
urso engravatado.
O poder é assim mesmo
pra certos homens. Igual ao que sentem os cachorros quando se apoderam de um
osso carnudo ou de um bico de pão saído da nossa mesa do café. Esse
comportamento tão mesquinho também está nas assembleias legislativas e nas
câmaras municipais pelo Brasil. Gente que entra pra política pra fazer fortuna,
ficar rica. A falta de vergonha e compostura de nossos políticos está fazendo
dessa classe uma categoria de bandidos privilegiados. Pagos com o dinheiro do
povo, os políticos têm casa, comida, roupa lavada, passagem de avião, segurança
e tudo o mais. Entre eles e minha cadela Nenete, a diferença é que ela defende
apenas seu bico de pão.
Por: Pádua Marques
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